terça-feira, 20 de outubro de 2009

Não se preocupava com a morte. Isso não passava pela sua cabeça porque pensava mais na vida. Esta era muito mais interessante para ela. Se houvesse ou não algo além da vida, pouco lhe interessava. Talvez, ser criada por um pai que dizia que o que importava a ele era o que tinha feito e vivido, tivesse contribuido para esse entendimento. O fato é que, nos últimos tempos, perguntava-se "para que viver?". Pensava no que fazer dos seus dias. Era muita angústia e o pensamento de morte e o pensamento de vida, até Alice perceber que cada pessoa vive para uma coisa. Uns nascem para crescer, reproduzir e morrer. Outros para produzir, outros para amar, outros para aprender, outros para jogar a vida fora. Uns para fazer dinheiro, uns para fazer sonhos, uns para não fazer nada. Alguns são leves, alguns são pesados... Foi pensando na possibilidade da morte que Alice lembrou do que a mãe disse num desses momentos de felicidade para ela: para que morrer? É que a vida parecia tão boa naquele momento que até poderia ser eterna.Alice sorriu. Apesar de saber que algumas pessoas desistem da vida, sentiu-se autorizada a viver. Para que viveria? Sabe que a vida lhe parecia dura, mas bonita. Gostaria de viver fazendo arte. Achou que por esse motivo valeria a pena viver. Nada do que se faz, se leva, mas a arte sobrevive. Permanece em cada pessoa que foi tocada pela mensagem. Ainda que toque apenas uma pessoa, sobrevive em cada próximo fruto por quem se iluminou da arte de alguém. Uma pessoa que usou uma cor porque determinada palavra que ouviu germinou-a. Ou a palavra que veio inspirada por uma melodia que um estranho qualquer ouviu numa caminhada de fim de tarde a flutuar em algum lugar. Tudo isso é eterno, ela sabia. Ainda que Alice vivesse sem arte nenhuma fazer, gostaria de viver, mesmo que só para admirar.