sábado, 9 de maio de 2009

Entrou no ônibus. Já tinha feito tanta coisa pela cidade. Sentou. Ônibus vazio, dia ameaçando terminar. Pensava. O ônibus parou. Entrou aquele homem: cabelos descontraídos, calça jeans, camisa branca, sapato. Alice não lembra-se qual era o sapato, lembra-se apenas de que o rapaz parecia ter saído de uma revista. Olhou. Ele perguntou para o cobrador. Esse ônibus passa na Barra? Sim. Quando Alice deu-se conta, o sim tinha saído da sua boca. Que sim dizia? Logo ela que é tão tímida para contatos iniciais. Por que respondia a quem nada havia lhe perguntado? Envergonhou-se, olhou para a janela. Sentou perto dela. Pensamentos em sua cabeça como de costume e o pensamento já não era mais ele. O ônibus entrou no caminho do mar e a moça em sua frente levantou-se. Ele sentou-se em seu lugar. Tantos lugares vazios havia se aproximado. Olhou para ela que olhava para o sol. Bonito, não é? Por algum motivo, Alice estava cheia de atitude. Ele concordou. Como é seu nome? Alice, e o seu? Florêncio. Conversaram. Era o homem mais lindo que já havia olhado para Alice. Ela até esquecia-se do amor no interior, do amigo-colorido, todos os homens que ela amava, que admirava, haviam sido esquecidos naquele momento. Ele perguntou qualquer coisa que ela não podia mais lembrar, mas que havia respondido de forma a não deixá-lo perceber todo o encantamento. O caminho parecia maior que o de costume. A orla parecia ter crescido. O meu ponto está chegando, o que acha de saltar comigo para terminarmos de ver o sol cair? Ela pensou. O que diria? Queria ir, mas tinha medo. Medo de que? Saíria com um estranho que de estranho não tinha nada? Saíria com aquele homem lindo que convidava-a calmamente para ficar junto dele? Enquanto as dúvidas passavam o ponto também passava. Ele continuou em sua frente esperando sua resposta. Alice ainda não podia responder. Pensava e em sua frente, Florêncio esperava. A calma havia sumido porque o ponto seguinte havia passado. Alice, você vai? Ela não sabia. Queria mas não podia. Toda ansiedade do querer mas não poder estava em seus olhos e refletia-se no dele. Outro ponto e ele falou. Três pontos se passaram, preciso saber se você vai comigo ou terei que ir sozinho. Não vou. A tristeza a invadiu. Onde estava toda atitude? Onde estava o sim que tão facilmente saiu da sua boca quando nem precisava sair? Ele apagou-se. Pegou o celular e mostrou-lhe. Você pode me dar seu telefone? Ela pensou. Não sabia se deveria. Alice, não posso perder mais um ponto. Tanta angústia se passava. É inviável, ela disse. Ele olhou sem raiva e levantou. Saltou. Ficou parado em frente ao ônibus e olhou para ela que ia quase que sem ir, quase ficando lá. Despediram-se. Alice sabia que era a única vez que veria Florêncio. Não sabia o que sentia exatamente. Estava envaidecida? Estava triste? Uma coisa não saía da sua cabeça: "Inviável".

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