quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Alice dançou. Há tempos não dançava... não suava... Dançou. Seus braços e pernas pareciam se entender. Um podia ir só. O outro podia ir acompanhado. Os dedos movimentavam-se, as mãos, o corpo. O corpo encolia e logo estava livre. Fechava e logo estava novamente feliz. O braço ia longe e podia alcançar o que Alice nem sabia, mas com certeza podia alcançar. O corpo paquerava Alice, como se dissesse o que Alice tinha esquecido. Os pés percorriam parados. O pescoço rodava. Deitada. Sentada. Podia sentir-se livre. A música era singela e pouco ela ouvia porque o que ela sentia de verdade era a si própria. O corpo ia para um lado e levemente passava para o outro. Espreguiçava, dançava. Não era ballet, não era nada que pudesse dizer o que tinha de ser. Era apenas o que Alice queria. Apenas isso. Braços que sobem, dedos que escrevem o ar num dialeto incompreensível. Se Alice estivesse falando naquela hora, se estivesse mudamente falando, podia bem entender. Falava que o corpo que estava anesteziado, agora dançava. Falava que gostava quando os olhos eram pintados, ou quando as unhas estavam vermelhas. Falava que gostava de cor. Falava que gostava de vento, de suor, embora só com muito esforço, Alice conseguisse suar. Seu cheiro era só quando acordava. Um cheiro bom de sono. Às vezes ela podia sentir. Quando suava, cheirava a água. Naquela hora, sentia os cabelos passarem pelo rosto levemente. Passavam pelo queixo, pelos olhos. Nunca tinha sentido como eram tão finos... Gostou de não tê-los encolido. O vento mal tocava a nuca. Ponta do pé. Perna esticada. Barriga. Braço alongado. Dobrava-se. Era um origame ansioso, que ora estava de um jeito, ora de outro. O corpo de Alice falava e ela mal tinha ouvido. Agora, ouvia. Dizia que queria ser percebido, reclamava atenção de Alice. O que ela podia fazer para reconciliar-se? A resposta era simples: precisava ouvi-lo.

Um comentário: