terça-feira, 1 de setembro de 2009

Alice acordou. Dormia fazia meses. Dormia como fazia quando criança, quando sentia uma dor muito forte e não sabia o que fazer com ela. Com a dor. Era forte, cansava, tomava. Foi falar com a índia. Aquela mulher de cabelos cheios, como os que Alice queria ter. Pele alaranjada, como Alice queria ter. Sábia, muito sábia. Como Alice queria ser. Deitada, Alice sonhava, falava, desejava o momento de não mais sofrer. A índia que às vezes lhe desmontava, lhe desvelava, sem medo de que Alice pudesse morrer com suas palavras, falava. Dessa vez, parecia estar mais doce, mais entendedora que Alice já não suportava pouco saber. Às vezes, era difícil vê-la, pois encontrá-la era a possibilidade de se encontrar também, e Alice, como sempre, tinha medo. Mas, de tudo que se falou, o que mais ecoou dentro de Alice foi: o que é seu é seu. E, como num estalo, Alice despertou. Tinha tanto e ainda tanto a ter. Estava disposta, como depois de horas de sono, se bem que no caso dela foram dias... Queria entender o que mais podia ter. Queria muito. E, a dor, que também ela tinha, sabia que era dela e que um dia poderia entender. Mas sabia que tinha uma vida inteira para viver e além disso, nada mais queria fazer.

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