terça-feira, 31 de março de 2009

Alice chegou na sala de espera. Viu que não estava sozinha. Alguém também esperava. Boa tarde. Boa tarde. Sentou. Estava com calor, mas não é do tipo que toma iniciativa de puxar conversa, sente-se mais confortável de ser procurada, sobras de timidez. Silêncio. Alice ficou constrangida. Pegou uma revista. Talvez, se estivesse sozinha, não quisesse ler, mas não sentia-se confortável para fazer o de sempre (devanear) na frente de um estranho. Enquanto lia, pensava na situação. Será que eles esperavam a mesma coisa? Será que o silêncio, tão íntimo que é, poderia ser dividido com um estranho? Afinal de contas, poderia alguém que nada tem a ver com Alice, observar o ritmo com que passa as páginas, ou imaginar por qual reportagem Alice se interessou? Ao mesmo tempo que se impressionava com a intimidade/impessoal, lembrava da viagem de ônibus que fez. Sentou, tirou os sapatos, esticou a perna. No colo, um livro; na frente, uma linda paisagem; ao lado, um estranho. Como Alice podia sentir-se confortável? Na sua cabeça, milhões de pensamentos apostavam corrida, pisoteavam-se. Pensava-se observada. Apesar de estranho, até que gostava Dormiu. Depois, pensava. Ele nem a conhecia para que tanto lhe fosse dado: olhos fechados. Nem sabe de que ventre ela veio. Nem sabe que ela já não ouve as mesmas músicas de antes, ou que os seus sonhos sentem-se ultrapassados. Nem sabe que ela não permite que alguém (sem permissão) opine em sua vida, e que, por outro lado, concede acesso ilimitado a alguns. Nem sabe que não existe critério para isso. Ele olhou. Sorriu. Não falavam a mesma língua, mas entendiam-se. Ele tentou falar. O critério foi usado: negado. Preferiu apenas continuar sendo observada. Será que ele a imaginava melhor ou pior do que realmente era? Será que gostava dos seus movimentos? Alice. Alice. Pode entrar.

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