sexta-feira, 27 de março de 2009

Quem é Alice?

Alice não quer mais voltar pro país de origem. Às vezes tem dúvida, mas prefere achar que o país do "De Verdade" é inevitável. Começou a sofrer com os indícios de que tudo que acreditava era falso. Atualmente, se incomoda quando vê moradores do seu antigo país. Talvez seja uma saudade, uma nostalgia. Não tem jeito. Alice agora vive em outro lugar, com outras regras, outro funcionamento. Às vezes, sente-se muito perdida, muito angustiada. Está sem referencial. Sabe que agora NÃO QUER SE IMPORTAR COM O QUE OS OUTROS PENSAM DELA. Não sabe mais se é católica. O país do "De Verdade" a deixou muito materialista. Sempre agiu conforme sua ética e continua assim. Não sabe mais quais valores deve ter porque se surpreende com opiniões que antes não a pertenciam. É, ela tem opiniões fortes e por isso não sabe se ela tem as opiniões ou se as opiniões a tem. Tem vergonha de algumas. Acha que algumas pessoas não gostariam. Pois é, se esquece de que decidiu não se importar mais com o que os outros acham dela. Tem dúvida se é melhor continuar sendo tímeida, ou continuar sendo espontânea.. Ela tem um pouquinho dos dois mas quer decidir o que deve prevalecer nela. Brigou com Poliana. Acha que não dá certo a amizade porque agora pensam diferente, mas às vezes tem recaídas. Ainda é amiga de Lisbela porque gostam de falar do mesmo assunto (cinema), mas não quer mais ir no interior e por isso não se encontram. Ah, essa é a sua dificuldade: se encontrar com ela mesma. Nem sabe se conseguirá, então, enquanto isso não acontece, vive com os pequenos prazeres que não exigem muito dela: caminhar à noite, comer um bom doce, estar com as amigas ou com a família. É ela ainda come doce, mas não tanto quanto antigamente. Antes era gordinha, era "A Feia", agora melhorou. Dez anos se passaram e ainda vê que tem coisas da "Feia". Tem mania de Dorothy, adora um sapato (ou tênis, ainda usa de vez em quando) vermelho. Antes gostava de cor de rosa, achava que era cor de menina, mas depois de Lóri, achou que o vermelho caía melhor nela também. Sabe que seu nome é de flor, e já disseram que ela é delicada como uma, mas não sabe mais se continua sendo porque nesse processo de mudar de país, ficou um pouco agressiva. É porque não sabe mais como reagir a determinadas situações de agressões permitidas. Vive vivendo agressões permitidas. Essas agressões sutis que as pessoas fazem e as outras não vêem nenhum problema nisso, mas que ela fica profundamente ofendida e acaba reagindo de forma não permitida. Bom, ainda gosta de chuva, ainda gosta de guarda-chuvas e cobertas. Gosta de viajar e colecionar fotografias felizes. Queria saber tocar piano e sapatear. Queria dar conta de tudo, quem sabe até controlar, ter garantia de felicidade. Quando está muito cansada, queria ter um vácuo de tempo, onde o tempo real congelasse e ela pudesse ir e voltar mais descansada, pra retomar de onde parou sem danos. Queria gostar mais de "dividir os brinquedos". Os adultos fazem isso mas ela não se permite. Experimentou "a água" que fazia sentir-se bem, como se estivesse de novo em seu país. Gostou, mas sabe que não pode bebê-la. Aprendeu que pode beber a água de Aurora, mas mesmo gostando e sabendo que é permitida porque já tem idade para isso, tem vergonha se relaxar demais. Não gosta que falem sem sua presença. Também não gosta que falem mal dela (por conta das recaídas sobre não ligar para o que os outros pensam). Não gosta de ser falada e, por ser também difícil falar de si, é que ela existe.

Um comentário:

  1. Ah... seu convite salvou a noite, Lua, rs. Bem, sobre o texto: quer saber? Quer saber a verdade mesmo? Olha... eu acho que você deve ter se tranformado numa pessoa ainda mais interessante do que a que eu conheci... Mais densa. É isso. Saudade retada. Bjs!

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