sexta-feira, 3 de abril de 2009

Alice desistiu de se perguntar, de curtir a dúvida. Entendeu que aquela rotina de interrogações tomava a sua vida e a consumia de um jeito que não lhe sobrava. Decidiu que se ocuparia do resto do mundoe, se o amor existisse de um modo possível, se fosse que conduzisse à emoção constante, ela descobriria. Então pensou sobre o que se ocuparia. Pensou no que gostava. Natal. Ainda falta muito. São joão. Falta muito também. Alice sabia que gostava de festas, mas a vida não era uma - nos tempos em que morava no seu antigo país, Alice, romanticamente, poderia dizer que era, mas agora sabia que não. Alice suspirou. Sabia que, além de festas, gostava de viajar. Conhecer. Alice gostaria de viver conhecendo, descobrindo. Lembrou da sensação que teve ao chegar em alguns lugares pela primeira vez. A primeira vez numa metrópole. A primeira vez na neve. Primeira vez naquela praia de gente nenhuma e mar de muita espuma. Primeira vez naquele poço que despencava água e congelava a perna. Primeira vez naquele restaurante com vela e piano. Talvez isso também a apaixonasse. O que será que Alice gastava mais? Viajar ou passar pela primeira vez? Bom, se a segunda opção fosse a verdadeira, Alice não gostaria tanto de retornar aos lugares que conheceu. É, retornar também agradava Alice. Sonhar com um lugar, desejá-lo, sentir saudade do cheiro, do gosto, do frio ou do calor e, finalmente, estar de novo lá. Talvez por isso, Alice goste tanto das festas de Natal e São João. Alice espera e elas sempre chegam. Enquanto isso não acontece, Alice se delicia com a saudade das luzes, dos presentes, do cheiro de infância, do gosto do bolo. Se não com isso, com o gosto da pamonha, com a saudade do forró, da alegria das pessoas. Ai, Alice sentia um aperto, uma saudade do mundo. Aquele mundo que era tão seu, mas só de vez em quando. Só nas festas, só nas viagens. No resto do tempo, Alice incomodava-se com o calor, com a falta do que fazer, com as notícias ruins do jornal. Bom, Alice não quer mais se angustiar, ocupar seus pensamentos com o que a consome. O que fazer? Pegou a câmera fotográfica para fazer o que mais gosta: descobrir o mundo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário