quinta-feira, 2 de abril de 2009

Alice entrou no ônibus. Estava sem pressa. Uma moça levantou e Alice descansou em seu lugar. Olhou em volta, várias pessoas em pé e um lugar vazio à frente. Perguntou-se o que acontecia. Ao lado do vago, uma senhora. Pele branca, vestes de velha, bolhas no rosto, secreção cor de laranja. Alice entendeu a situação. O ônibus parou e, em meio às pessoas que subiram, um menino grande de baba no queixo e mãos retardadas. Sua mãe não o aguentava mais no colo. Sentou-o ao lado da senhora. O menino olhou para a velha e sorriu. Ela, aliviada da sua solidão, sorriu também. Olhavam-se e, por instantes, suas almas se encontraram. Sentiam-se iguais, gostavam da presença calada um do outro. Satisfaziam-se com a luz que seus sorrisos se deram. Nada mais precisou ser dito. Era ela e ele no ônibus inteiro. Seus olhos conversaram. Oi, achei a senhora bonita. Achei você esperto. O que fez hoje? Voltei de um exame. Eu também. E então, tudo bem? Os médicos disseram que não sabem o que tenho. Para mim, disseram que não tenho jeito. Gostei de te encontrar, geralmente não consigo me comunicar. Você também me fez bem, estava me sentindo sozinha. Sabe que achei o dia colorido hoje? Achei um dia de saudade... A conversa continuava, os olhos eram tagarelas e os sorrisos fofoqueiros. Alice tinha que saltar.

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